No início da quaresma, após a homilia, acontece o austero símbolo das cinzas, ou seja, o rito de bênção e imposição, que caracteriza a liturgia da quarta-feira de cinzas. Este rito é feito na celebração eucarística, ou na celebração da Palavra. Começa com o convite e é encerrado com a oração dos fiéis. (cf. Missal Romano).
As cinzas são feitas com os ramos de oliveira ou outras árvores, bentos no domingo de ramos e da Paixão, no ano anterior.
Primeiramente o que preside dirige-se à assembleia litúrgica, convidando-a a invocar a bênção de Deus sobre as cinzas: Caros irmãos e irmãs, roguemos instantemente a Deus Pai que abençoe com a riqueza da sua graça estas cinzas, que vamos colocar sobre as nossas cabeças [1] em sinal de penitência.
Após o convite, o que preside profere uma das orações, à escolha. As orações pedem que os fiéis sejam bem preparados para celebrar a Quaresma. As duas tratam da finalidade específica deste tempo.
A primeira oração invoca a bênção sobre os fiéis:
Ó Deus, que vos deixais comover pelos que se humilham e vos reconciliais com os que reparam suas faltas, ouvi como um pai as nossas súplicas. Derramai a graça da vossa bênção sobre os fiéis que vão receber estas cinzas, para que, prosseguindo na observância da Quaresma, possa celebrar de coração purificados o mistério pascal do vosso Filho. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
A segunda oração invoca a bênção sobre as cinzas:
Ó Deus, que não quereis a morte do pecador, mas a sua conversão, escutai com bondade as nossas preces e dignai-vos abençoar essas cinzas, que vamos colocar sobre aas nossas cabeças. E assim reconhecendo que somos pó e que em pó voltaremos consigamos, pela observância da Quarema, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à semelhança do Cristo ressuscitado. Por Cristo, nosso Senhor”
Em seguida, após a aspersão das cinzas com água benta, os fiéis se aproximam, permanecendo de pé e o que preside impõe-lhes as cinzas, em suas cabeças, dizendo: “Convertei-vos e crede no Evangelho” – o conteúdo programático de Jesus – (Mc 1,15). Ou: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar” – palavras que recordam a expulsão dos primeiros pais do paraíso – (Gn 3,19).
Durante a imposição das cinzas, cantam-se antífonas (com o salmo penitencial 51 [50]), um responsório ou outro canto apropriado.
As cinzas são colocadas em nossas cabeças em sinal de penitência e nos faz reconhecer que “somos pó e ao pó voltaremos”. Tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Nos lembra que tudo aquilo que para nós é tão importante, se tornará pó! O Único que permanecerá é o próprio Deus. É por isso que é preciso buscar aquilo que, realmente, tem substância nesta vida.
A liturgia da quarta-feira de cinzas, que abre o tempo quaresmal, nos convida a iniciar este tempo com jejum, “para que a penitência nos fortaleça contra o espirito do mal” (cf. oração coleta). A mesa da Palavra de Deus igualmente insiste à prática da penitência e reconciliação (cf. Jl 2,12-18; Sl 51 [50], 2Cor 5,20 – 6,2). No Evangelho, extraído do sermão da montanha (Mt 6,1-6.16-18), Jesus nos convida à prática da esmola, oração e jejum. O jejum como disciplina que conduz a liberdade, a oração, sinal do nosso desejo de Deus e da unificação do coração e a esmola traduzida em solidariedade que pode ser vivenciada em gestos concretos por meio da Campanha da Fraternidade. Num mutirão fraternal, somos provocados a defender a vida. Uniremos não só as nossas vozes, mas também nossas forças, energias, ações e iniciativas, na escolha da vida e transformando a nossa fé em caridade.
Iniciamos a observância quaresmal, para celebrarmos de coração purificado o mistério pascal de Jesus Cristo (cf. oração). Ou seja, converter-nos e crer no Evangelho. Converter-nos, nesse sentido, portanto, significa “reorientar-nos”, “voltar-nos a”, “fixar o olhar em” e crer no Evangelho de Deus que nos dá o dom e a verdade de sermos seus filhos e filhas. Trilharemos este caminho, como discípulos e discípulas fiéis, seguindo os passos de Jesus.